Aos 77 anos, vicentina se inscreve no Caldeirão do Huck com sonho de empreender: 'Vou ser chamada'

Maria da Gloria Conceição Rios foi dona de várias papelarias na cidade e quer voltar ao trabalho, além de ajudar o Lar Vicentino

Por: Bia Viana  -  09/04/21  -  10:04
Dona Gloria está empenhada nos estudos e sonha em retomar seus negócios
Dona Gloria está empenhada nos estudos e sonha em retomar seus negócios   Foto: Carlos Nogueira/AT

Maria daGloriaConceição Rios, de 77 anos, está determinada: ela se inscreveu duas vezes para participar do Caldeirão do Huck, buscando abrir um negócio próprio e ajudar a melhorar o Lar Vicentino, onde reside desde junho de 2020. Motivada, ela se prepara para a terceira inscrição e está confiante.


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"Eu acredito muito naquilo que me proponho, e tenho certeza que vou ser chamada", afirma Gloria. Depois de muitos anos de trabalho duro e dedicação, a empreendedora estrutura seu novo projeto enquanto espera por uma resposta para participar do quadro Quem Quer Ser um Milionário, que ajuda a financiar negócios e projetos.


O trabalho sempre foi uma parte positiva de sua vida. Aos 12 anos, já ajudava a família, e desde então nunca mais esteve parada. "Fui trabalhar numa sorveteria substituindo minha irmã. Depois disso, passei para a papelaria Cruzeiro. Trabalhei no depósito e decorei todos os itens da firma, tenho essa facilidade, então para gerente foi um pulo. Trabalhei lá por oito anos, até que percebi que tinha que trabalhar por conta própria. Foi quando abri minha pequena lojinha".


Ela ficou na Cruzeiro até 1977, quando voltou de férias e pediu as contas. Meses depois, em novembro, abriu a papelaria Mônica, inspirada na protagonista de Maurício de Sousa, que firmou no melhor ponto do Jóquei Clube. Ela trabalhou por 20 anos na papelaria, garantindo o sustento da família.


Porém, os desafios foram grandes. Gloria perdeu a lojinha após quitar uma série de dívidas de jogo de seu companheiro, que era viciado em baralho. "Ele era viciado em cartas, então tinham noites que ele passava jogando. Quando os credores vinham para cobrar dele, eu me sentia na obrigação de pagar. Fui tirando da minha loja e me endividando, até perder tudo".


O contratempo não a fez desistir. Depois da Mônica, Gloria teve outras duas papelarias. "Tive outras lojas menores, todas em São Vicente. Quandofaltava dinheiro eu ia pra estrada vender garrafa d'água para o povo que passava, sem a mínima vergonha", contou Gloria, emocionada.


Três Porquinhos Pobres


O sonho de empreender na terceira idade é realidade para muitos brasileiros. Segundo levantamento feito pelo Sebrae neste ano, a partir dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra por Domicílios Contínua (PNADC) do IBGE, cerca de 7,3% do total deempreendedoresdo país possuem mais de 65 anos.


As vantagens desses empreendimentos são inúmeras. Além da atividade e renda extra, a expertise adquirida durante a vida profissional ajuda a viabilizar o negócio. Para Dona Gloria, experiência é o que não falta.


Com reservas financeiras, ela está economizando para investir na lojinha. Com o incentivo do Caldeirão, pretende viabilizar esse e outros projetos. A loja já tem nome e data de inauguração escolhidas: Três Porquinhos Pobres abrirá as portas em 2 de dezembro de 2021.


"Eu escolhi essa data porque é o mês do meu aniversário, e 'três porquinhos pobres' é porque gosto muito das histórias do Walt Disney, e porque tenho três netos. Resolvi adaptar isso para eles porque atualmente a vovó é pobre (risos)", brinca Gloria.


Muito bem humorada, ela está empenhada com a loja não só por si mesma, mas também pelo legado a deixar para sua família. "Depois que abrir a loja, devo fazer uma reserva para minha neta fazer faculdade, para ela não enfrentar as dificuldades que eu enfrentei. Essa minha neta, que eu criei, é quase uma filha. Se ela gostar do comércio e da loja, pode ficar com ela quando eu for dessa para melhor ou pior também (risos)".


Além do empreendimento, o dinheiro também será destinado a ajudar o Lar Vicentino. "É a primeira coisa que eu irei conversar com o Luciano Huck. Se ele não quiser me pagar nada não tem nenhum problema, deixo tudo para lá, mas eu gostaria que eles viessem ajudar os idosos aqui no Lar. A ideia principal é essa".


Cheia de fé, Dona Gloria está jejuando em ordem para realizar seu sonho. "Peço a Deus que ele abra as portas, que eu consiga. Daqui uns dias vou fazer nova inscrição lá, ele (Luciano) vai cansar de ouvir meu nome (risos)".


De volta aos estudos


Leitora assídua, Dona Gloria resolveu voltar a estudar para se preparar para o programa. "Estou voltando atrás, recordando. Tenho estudado tudo sobre o Brasil, história, geografia, política, português, assisto todos os jornais que você pode imaginar". A empreendedora chegou a começar a faculdade de matemática, mas não conseguiu concluir por questões financeiras.


Suas obras favoritas sempre foram as histórias infantis. Quando morou no Acre, ela trabalhou com crianças e adorava interagir com os contos clássicos. "Dei aulas particulares de reforço. Eu lia para crianças pequenas e ajudava. Lembro de um meninoque estava no terceiro ano e não sabia escrever nem ler. Ele ficou comigo três meses, e depois disso sabia ler, escrever e contar até 1.500", contou.


Com o intelecto bem alimentado, Gloria também se preocupa com o físico. Ela está no aguardo da segunda dose da vacina contra covid-19. "Me sinto bem, muito feliz, apesar que sou muito tranquila em questão de saúde. Tenho uma saúde de ferro, só se ela enferrujar (risos)".


A pandemia não atrapalhou seus sonhos, mas só atrasou o tratamento de um problema no joelho, que está cuidando no Lar Vicentino. "Tenho participado da fisioterapia porque encontro um pouco de dificuldade em andar. Gostaria de quando for no programa, não estar mais com o andador", disse Gloria. Ela conclui sua história otimista sobre 2021: "Quem sabe se até meu aniversário, abrirei a porta da minha loja".


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