Adoção de animais com deficiência em Santos ajuda quem adota

Conheça histórias de superação que acabaram trazendo benefícios para quem os escolheu

Por: Jean Marcel  -  16/07/21  -  15:40
  Animais com deficiência retribuem amor e podem se tornar exemplo
Animais com deficiência retribuem amor e podem se tornar exemplo   Foto: Arquivo Pessoal

É cada vez mais comum o número de animais de rua que passam a ter um lar, e adotar um animal que possui alguma deficiência, também. Há quem já procure por animaizinhos especiais, mas nem sempre quem adota já sai de casa com a intenção de escolher um pet deficiente. “A gente sempre costuma dizer que somente pessoas especiais adotam animais especiais”, afirma Leila Abreu, assessora de comunicação da ONG Viva Bicho, em Santos.


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Leila está há quatro anos na ONG, desde o seu início. “É muito comum aparecerem para nós animais que resgatamos feridos, e precisam de enucleação [retirada do globo ocular] ou amputar uma patinha para poder salvá-los”, conta. A forma de divulgar os animais para adoção mais comum é em feiras e divulgação em redes sociais..


Monique Pereira Guimarães, de 29 anos, é bancária. Ela adotou o Skol em fevereiro de 2021 através de uma dessas postagens. “Além do Skol, que foi o último a fazer parte da nossa família, temos outros dois gatos. O Spock que é o mais velho e tem 10 anos, e o Jujuba que tem 6”. A bancária já tinha um dos gatos que era surdo.


“Quando vi a postagem sobre o Skol me doeu o coração, porque ele tinha um olhar bem triste. Além de já ser um gato adulto, o que torna mais difícil a adoção, ele teve de ser amputado quando resgatado. ‘Será mais difícil ele encontrar um lar’, pensei. Então foi por pura empatia e amor ao próximo a escolha dele”, conta.


  Skol chegou recém-amputado para Monique
Skol chegou recém-amputado para Monique   Foto: Arquivo Pessoal

No início, Skol precisou de muita atenção, pois a amputação tinha ocorrido cerca de um mês antes da adoção. “Acreditamos que ele tenha sido atropelado. Ele chegou muito fraquinho, pele e osso. A patinha da frente recém-amputada e a de trás também tem uma deficiência. Com o tempo vimos que a adaptação foi muito rápida e ele não tem problemas de locomoção, só adaptamos os potes de alimentação, um pouco mais altos, para facilitar”, diz Monique.


Leila explica que a adaptação física para os animais é bem menos complicada: “ Os animais se recuperam muito melhor, diferente dos seres humanos, que têm o envolvimento emocional. O cachorro, se você tirar uma pata dele, no dia seguinte ou dois dias depois ele vai entender, e já vai se adaptar sabendo que não tem aquele membro. Não existe conflito, então, ele aceita, e se adapta”.


Exemplo


E esse tipo de adaptação acabou servindo de exemplo à pequena Natália, de 9 anos, que desde os 4 tem o pequeno Nino, um cãozinho que se locomove em cadeiras de rodas, assim como ela. “Através da empatia com o Nino, Natália teve muito mais facilidade de entender o que ocorria com ela, e cuidar dele, dar atenção, a ajudou com certeza na autoestima. Somos muito gratos a esse amor que o Nino retribui”, conta Juliana, a mãe.


Ela já tinha outro cachorro na família, mas acreditou que podia mostrar à filha através do animal especial, que, com algumas adaptações, era possível uma vida normal. “Deu muito certo, ela não só se sente muito mais confiante, como a vejo muito feliz. Os dois não se separam”, conta a mãe.


  Débora tem com Cookie, cega dos dois olhos, e Yve que não tem uma pata, além de outros dois gatos
Débora tem com Cookie, cega dos dois olhos, e Yve que não tem uma pata, além de outros dois gatos   Foto: Arquivo Pessoal

Débora Gonçalves Lorenzon é professora. Tem 42 anos. Ela é ‘mãe’ da Cookie, que é cega dos dois olhos, da Yve, que não tem a pata direita, e ainda Yoda e Suíla, que não têm deficiências.


“Tenho os dois há 2 anos e meio. Cookie adotei quando soube de sua triste história. Já a Yve, teve sua mãe resgatada grávida por amigos em São Paulo, e quando eu soube, falei ‘Se nascer um deficiente, é meu!’. Entre os filhotes havia um sem uma patinha, e foi assim que ela veio pra mim”, explica.


“Adotar já é algo significativo, mas adotar um animal deficiente, é ter a certeza que você mudou uma história, que se é parte de algo significativo”, diz Débora.


Amor incondicional


O amor aos animais e o cuidado com eles independem de condição social. Leila diz que na ONG é comum moradores de rua ou pessoas carentes levarem os animais para atendimento: “ A diferença é que é quase impossível você fazer uma cirurgia ortopédica, por exemplo, porque o nível do pós-operatório que eles precisam fazer, a pessoa carente ou de rua não oferece a mesma condição para recuperação. Por exemplo, um chão de barro está muito mais propício a uma infecção, aí é recomendada a amputação em vez de uma operação de colocação de pinos e correr riscos”, explica.


Após a operação e recuperação, esses animais não necessitam, normalmente, de qualquer cuidado especial. "Fazemos postagens para divulgar os animais para adoção, e muitos são adotados até rapidamente”, diz Leila.


Por outro lado, há quem abandone seus animais, por alguma doença ou mesmo por estarem com idade avançada. “Acho que é um crime! Confesso que não sou evoluída para entender e aceitar essas atitudes”, diz Débora. E Monique não pensa muito diferente: “Acredito que um ser humano que abandona um animal não merece respeito, ele seria capaz de qualquer coisa. Entendo e já vi acontecer, pessoas que não tem mais condições de manter o animal, ou por mudança, trabalho, falecimento, mas sempre existem saídas, você pode divulgar a adoção informando o motivo, por exemplo. Abandono é imperdoável”.


É comum perceber , também, animais que, por alguma infelicidade, conhecem a maldade. Conviver novamente com o toque humano vem com o tempo, e eles se tornam extremamente carinhosos e gratos. “Seria incrível se os animais apenas conhecessem o amor, sem processos de trauma e sofrimento. Não sei o que o Skol passou, mas hoje, quando eu estou deitada e ele se deita em cima da minha barriga, confiante de que nunca mais vai passar por nada disso, é uma sensação que só ele poderia me trazer”, diz Monique.


Muitas vezes as pessoas sentem que querem ajudar, mas estão inseguras em adotar um animal, seja deficiente ou não. “Você pode ajudar de outras formas. Leve sua experiência e suporte voluntário. É possível participar de alguma ONG ajudando financeiramente ou doando seu tempo para ajudar, participando em campanhas ou somente divulgando. Adotando ou não, uma pessoa pode fazer diferença!”, finaliza Débora.


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