Por amor a profissão, professora 'desiste' de aposentadoria e volta a dar aulas na Baixada Santista

Cláudia Cassiano está aposentada, mas voltará a lecionar em cidade da região

Por: Arminda Augusto  -  24/04/22  -  09:57
Atualizado em 24/04/22 - 09:59
Cláudia Cassiano era diretora de escola e pediu aposentadoria, mas prestou concurso para ser professora
Cláudia Cassiano era diretora de escola e pediu aposentadoria, mas prestou concurso para ser professora   Foto: Alexsander Ferraz/AT

“O professor é, naturalmente, um artista, mas ser um artista não significa que ele ou ela consiga formar o perfil e possa moldar os alunos. O que um educador faz no ensino é tornar possível que os estudantes se tornem eles mesmos”.


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O autor dessa frase é o educador e filósofo Paulo Freire (1921-1997), que, se fosse vivo, talvez gostasse de conhecer um desses artistas, que depois de cumprir a arte de educar até se aposentar, permitindo que centenas de alunos “se tornassem eles mesmos”, decidiu voltar para a sala de aula da escola pública.


Cláudia Hudson Cassiano nasceu em São Paulo há 52 anos, estudou apenas em escolas públicas e concluiu o Magistério. Aos 17, já trabalhava como professora. Aos 20, casou, teve dois filhos, parou seis anos para cuidar das crianças e mudou-se para Santos.


Trabalhou em escolas particulares, mas sempre alimentou o sonho de ser professora na rede pública. Em 2008, o desejo se realizou, mas em concurso para diretora de escola na Prefeitura de Cubatão, sempre em comunidades carentes. Primeiro, foi na UME Mato Grosso, na Vila São José. Depois, na UME Estado de Tocantins, na Vila Natal.


“Sempre fui muito feliz na escola pública. A comunidade valoriza o professor, o diretor, a gente conhece todo mundo, todo mundo conhece a gente”, diz.


Ao completar o tempo de contribuição previsto em lei, Cláudia se convenceu de que era prudente não desperdiçar a oportunidade de pedir a aposentadoria, mas não imaginou que ela sairia tão rápido. “O que eu vou fazer fora da escola? O que vou fazer da vida sendo tão nova ainda?”, pensou, quando disseram que o processo já estava no fim.


A resposta para suas dúvidas veio logo. Em outubro, a Prefeitura abriu concurso público para contratação de professores, e Cláudia se inscreveu. Passou em 16º lugar. No currículo da paulistana vai constar um fato curioso: no Diário Oficial de Cubatão, a publicação de sua aposentadoria como diretora se dá no mesmo dia de sua nomeação para o cargo de professora de Ensino Fundamental.


Escola pública
E por que voltar para a sala de aula em uma escola pública, que em geral paga menos que escolas particulares? E por que em Cubatão, já que ela mora em Santos e precisa pegar a estrada todos os dias?


As respostas são fáceis no discurso da professora Cláudia: “Eu gosto muito de Cubatão. Lá eu faço a diferença. E eu devo isso à escola pública, que foi quem me formou. Não me vejo fora da escola pública”, diz, com convicção.


Cláudia também busca novos conhecimentos para agregar à educação que passa aos seus alunos de segundo ano do Ensino Fundamental na UME Usina Henry Borden, para onde foi designada.


Está fazendo faculdade de Letras e, depois, pretende seguir os estudos na área de Educação. Até quando? “Enquanto eu achar que estou sendo útil aos meus alunos, enquanto eu achar que estou passando bons conceitos e bons valores”. Ou como diria Paulo Freire: “O educador se eterniza em cada ser que educa”.


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