Alta dos combustíveis faz motoristas por aplicativos abandonarem serviço na Baixada Santista

Trabalhadores enfrentam dificuldades para manter o atendimento e muitos já negam corridas na região

Por: Maurício Martins  -  01/09/21  -  06:56
 Josiane trabalha há pouco mais de um ano como motorista de aplicativo e diz que, com o aumento no valor dos combustíveis, está difícil lucrar
Josiane trabalha há pouco mais de um ano como motorista de aplicativo e diz que, com o aumento no valor dos combustíveis, está difícil lucrar   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

A alta do preço dos combustíveis está afetando o trabalho de motoristas de aplicativos. Muitos profissionais da Baixada Santista abandonaram o serviço porque a conta não fecha, ou seja, o que ganham não é suficiente para bancar a gasolina. Outros selecionam apenas corridas que compensem, negando vários chamados, o que prejudica passageiros. E tem ainda os que estão trabalhando mais de 12 horas por dia para tentar lucrar com uma maior quantidade de passageiros atendidos.


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A situação é confirmada pelo presidente da Associação dos Motoristas de Aplicativos da Baixada Santista (Amabs), Bruno Martins de Abreu, de 42 anos. “Tem motorista recusando corridas curtas, quando o deslocamento para pegar o passageiro é maior que o destino. Os que usam a plataforma como complemento de renda estão parando de trabalhar, e o motorista que não tem outra opção trabalha muito mais horas para o mínimo de faturamento”, diz ele.


Para Martins, é necessária uma reformulação completa nos aplicativos. “O formato hoje não comporta aumento de tarifa, porque ela gera redução na demanda. Mas para começar a dar um lucro sadio aos motoristas, é necessário aumento de 60% nas tarifas e isso os aplicativos não vão fazer nunca”.


Josiane Ribeiro de Aguiar, de 33 anos, trabalha há pouco mais de um ano como motorista de aplicativo em Santos, São Vicente e Praia Grande. Ela disse que está muito difícil lucrar com o aumento no valor dos combustíveis.


“Passamos mais tempo na rua do que em casa. E também está complicado para os passageiros, pois temos que escolher viagens mais curtas, pouco deslocamento e num preço bom, para não ter muito prejuízo. Já vendi até água no carro para ajudar um pouco mais na renda. Os dois apps que mais utilizo nunca mexeram nas tarifas”, explica.


A motorista Ana Medeiros, de 40 anos, de Praia Grande, roda há 5 anos com aplicativos. Personal trainer, ela passou a investir mais na carreira. “Eu coloco o destino onde vou fazer meu trabalho de personal e pego apenas passageiro que está indo para o mesmo destino que eu, viagens curtas não aceito mais”, diz.


Alexandre Menino Monteiro, de 47 anos, é de São Vicente e trabalhava há 5 anos com aplicativos. Parou por causa da falta de reajuste e do combustível caro. “Tenho trabalhado com viagens particulares de longa duração, faço anúncios oferecendo meus serviços. Quando não tenho viagem agendada, acabo optando pelos apps de entregas”, explica.


Taxistas


O presidente do Sindicato dos Taxistas de Santos (SindTaxi), Luiz Antônio Sares Guerra, diz que a categoria foi uma das que mais sofreu com a pandemia e agora, com o aumento de combustíveis, está ficando cada vez mais difícil continuar.


“Muitos companheiros estão deixando de trabalhar. Nossa matéria-prima é o combustível, nossos veículos são todos padronizados - cor prata e faixas verdes, pagamos ocupação de área nos pontos de táxi. Está muito complicado”.


Os aplicativos


A Uber disse, em nota, que opera um sistema de intermediação de viagens dinâmico e flexível e que considera as necessidades dos motoristas parceiros e a realidade dos consumidores que usam a plataforma, tendo em vista a preservação do equilíbrio entre oferta e demanda.


“A Uber vem acompanhando os aumentos de preço dos combustíveis nos últimos meses, entende a insatisfação causada pelos seus impactos em todo o setor produtivo e, por isso, a empresa tem intensificado esforços para ajudar os motoristas parceiros a reduzirem seus gastos”, diz.


A empresa afirma que a demanda por viagens vem se acentuando nas últimas semanas, conforme o avanço da campanha de vacinação e a reabertura progressiva de atividades comerciais pelas autoridades.


“Os usuários estão tendo de esperar mais tempo por uma viagem porque, especialmente nos horários de pico, há mais chamados do que parceiros dispostos a realizar viagens. A demanda elevada significa que o app da Uber está tocando sem parar para os parceiros, situação em que eles relatam se sentirem mais confortáveis para recusar viagens, pois sabem que virão outros chamados na sequência, possivelmente com ganhos maiores”.


A 99 informa que a plataforma não registrou alteração no número de motoristas parceiros cadastrados, porém, desde o início da pandemia, vem experienciando um aumento na demanda pelo serviço.


“A 99 está atenta à atual conjuntura econômica e já garantiu mais de R$ 3,1 milhões em desconto nos postos da rede Shell em todo o país. Além disso, lançou recentemente um pacote de benefícios para reduzir custos e aumentar o repasse para os parceiros. Entre eles, está o tarifa zero, na qual em dias e horas específicas todo valor da corrida é repassado ao parceiro. As ações devem injetar mais de meio bilhão de reais na economia do país”.


Sobre o repasse aos parceiros, diz que o cálculo utiliza uma equação que leva em conta a distância percorrida e o tempo de deslocamento. “É importante observar que há um teto máximo de 30% de desconto para preservar os ganhos dos parceiros. Neste sentido há casos em que é empregada a taxa negativa, ou seja, o valor repassado ao motorista é custeado pela empresa para democratizar o acesso das pessoas”.


Por fim, a empresa destaca que os motoristas parceiros têm a liberdade de escolher ou cancelar viagens. Entretanto, há um limite de vezes que essa operação pode ser realizada para manter o equilíbrio do funcionamento da plataforma.


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