De Série em Série: Sweet Tooth mistura fantasia com trama assustadora sobre pandemia

Cravando o 1º lugar entre as mais assistidas da Netflix em sua semana de estreia, aventura tem potencial de renovação

Por: Bia Viana  -  12/06/21  -  11:22
  Série é encantadora, mas pode deixar o espectador sensível com a ambientação pandêmica
Série é encantadora, mas pode deixar o espectador sensível com a ambientação pandêmica   Foto: Divulgação

Como a série mais assistida na Netflix entre os brasileiros hoje, confesso que Sweet Tooth me pegou desprevenida. A trama de um jovem menino-cervo inocente, criativo e inspirador, que lembra desde o início uma fábula infantil repleta de belas lições de moral, está inserida em um contexto não tão acolhedor: a obra ambienta-se num mundo fragmentado após a pandemia de um vírus letal eliminar mais da metade da população mundial, resultando num universo inóspito, violento e cercado por medo (não tão fictício, como eu gostaria que fosse, mas infelizmente bem oportuno).


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O temor sofrido pelos personagens, que enfrentam a ameaça constante de um inimigo invisível e incurável enquanto tentam proteger a si e aos que amam, é o mesmo que eu enfrento, todos os dias, quando saio para ir ao mercado ou trabalhar. Quando dei o play esperando por uma aventura distante ao nível de Hobbit ou Amor e Monstros (longa Netflix indicado ao último Oscar que tem, inclusive, muitas similaridades estéticas e narrativas com esta série), esperava me desconectar do mundo real por alguns minutos e fugir do exato sentimento evidenciado pela trama, de luto, medo, dor e sofrimento; uma fuga que tenho praticado entre tantas outras produções mais "soft" durante os meses em isolamento. Porém, essa chamada de atenção também pode ser exatamente o que é preciso para aprendermos a ter mais empatia com o outro: além da premissa, a série também fala sobre preconceito, ganância e o comportamento destrutivo do homem, que vê o uso da força como única resposta no combate às suas frustrações e temores pelo incontrolável.


O sentimento é agridoce, mas a jornada vale a pena. Acompanhamos três histórias paralelas que vão se encontrando com o desenrolar da narrativa: a principal segue Gus (Christian Convery), um menino híbrido que viveu com seu pai na floresta e após um incidente, precisa encarar uma nova aventura; a segunda é do médico Aid Singh, um dos primeiros a descobrir o flagelo, a doença terrível que dizimou a humanidade, que tem que enfrentar o problema em sua própria casa; e por último, a terceira história segue Aimee, uma psicóloga que descobriu no fim do mundo uma oportunidade de recomeço.


A clássica jornada do herói embute todos os elementos da narrativa principal, tornando algumas situações e encontros bem previsíveis, como a adesão dos sidekicks - o misterioso vigilante Tommy Jepperd e a líder pró-híbridos Ursa, que abrem os olhos de Gus de formas diferentes - e o pai do pequeno, Paba, seu grande mentor e guia espiritual. Porém, quando partimos para as outras linhas do tempo, experimentamos uma mudança brusca da aventura e fantasia para a ficção científica, suspense e drama, evidenciando a distopia assustadora que tanto nos faz refletir sobre nosso momento atual.


Baseada nos quadrinhos homônimos de Jeff Lemire, Gus e seus amigos enfrentam um mundo exuberante e cheio de perigos desconhecidos, em uma obra audiovisual de fotografia encantadora e trilha sonora cativante; ao mesmo tempo, nós experimentamos uma complexidade semelhante nos noticiários, mas sem as belas músicas folk ou a opção de pausar esse universo temível e seguir com nossas vidas. Se assim como eu você estiver um pouco sensível com temas pandêmicos, talvez seja melhor deixar essa para mais tarde.


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