Conexão Austrália: Os impactos do coronavírus

Existe, claro, razão para ter medo. Mas há também o pânico sem fundamento, o que tem sido considerado um problema a mais para Austrália

Por: Fabiana Marinelo - De Sidney  -  14/02/20  -  19:28

A Austrália está pertinho da China, para os parâmetros locais. São 12 horas de voo, o que torna os países bem próximos um do outro. Essa relação pode ser vista em diversos setores: educação, moradia, número de cidadãos australianos com descendência chinesa, alimentação e por aí vai. Alguns bairros de Sydney e outras capitais são “bem chineses”, com placas em mandarim e lojinhas cujos donos pouco falam inglês. Com todo este envolvimento, a Austrália foi fortemente afetada pelo coronavírus, cujo epicentro está na cidade de Wuhan, na China.


Depois das queimadas, o coronavírus está sendo responsável por mudar a rotina local. As máscaras faciais, que foram adotadas por causa da fumaça, permanecem, agora, por outra razão. Em várias lugares, há placas alertando para que as pessoas lavem as mãos com mais frequência e evitem contato físico. 


E o pior da xenofobia também apareceu. Alguns estabelecimentos – poucos – tentaram, de forma subliminar, barrar a entrada de pessoas chinesas. Recentemente um estudante que alugava um quarto foi proibido de manter o aluguel por medo do proprietário do imóvel. Nas redes sociais, não apenas aqui, mas em todo o mundo, ataques sem fundamento também ocorreram. 


Existe, claro, razão para ter medo. Mas há também o pânico sem fundamento, o que tem sido considerado um problema a mais para Austrália. O governo e a mídia local procuram esclarecer a população para evitar o pânico sem sentido. Algumas medidas foram tomadas, muitas delas bastante efetivas, como o cancelamento dos voos da China para cá. 


Estamos na nona semana desde a descoberta do novo coronavírus. E tudo é ainda muito incerto. Os especialistas australianos, assim como outros ao redor do mundo, estão apenas começando a entender a gravidade da doença, como ela se espalha e quais são os melhores tratamentos. Os números permanecem crescentes, o que dificulta manter a população longe da histeria. A Austrália já contabiliza 15 casos confirmados. Segundo o ministro da Saúde local, Greg Hunt. Destes, cinco pessoas já se recuperaram da doença.


Apesar do controle na área da saúde, o que é uma boa notícia, a economia local já sente os efeitos do vírus, principalmente por causa do banimento dos voos da China para a Austrália. Os setores de turismo e comércio contabilizam prejuízo. Isso porque os chineses são o maior grupo de turistas por aqui. Nos 12 meses até novembro de 2019, foram mais de 1,44 milhão de visitantes do país, de acordo com a Tourism Australia. Este número representa cerca de 15% do total de 9,44 milhões de chegadas. 


Além de ser um grupo robusto, os chineses gastam mais e aquecem a economia. O gasto médio por viagem de um turista chinês gira em torno de US$ 10 mil, enquanto americanos e alemães gastam em média US$ 5 mil. Outro setor fortemente afetado é a Educação – os estudantes chineses matriculados em universidades australianas representam 38% de todos os pagantes.


Nos últimos 12 meses, os chineses contribuíram com cerca de US$ 12 bilhões para a economia australiana – 27% do valor total gasto por todos os visitantes internacionais. Vale destacar que o turismo internacional representa cerca de um quarto do mercado total de turismo da Austrália. 


Apesar do impacto na economia local, o governo não quer arriscar. Por isso, nessa quinta-feira (13) decidiu manter o banimento de voos da China. 


Para o líder do setor de virologia da Universidade de Queesnland, Ian Mackay, a doença está agora em um estágio crítico, principalmente por que as mortes já ultrapassaram as da SARS. O importante é ter calma e esperar que os cientistas tragam logo a solução para a crise. 


Sobre a autora


Fabiana Marinelo é profissional de comunicação empresarial e jornalista. Ela escreve na coluna Conexão Mundo, do Jornal A Tribuna, quinzenalmente - às sextas-feiras.


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