Grafiteiro de Guarujá que realiza projeto comunitário é convidado para evento no Chile
Zulu Tiquinho participou do Meeting Bajos de Mena em 2017, e ganhou reconhecimento da organização. Artista embarca para o Chile nesta sexta (27), onde encontrará 300 artistas
Fernando dos Santos Rodrigues, de 41 anos, mais conhecido no grafite como ‘Zulu Tiquinho SRB’, foi convocado pela organização do Meeting Bajos de Mena 2019, evento que acontece no Chile no próximo fim de semana. O artista de Guarujá será um dos 300 grafiteiros de países com Espanha, Venezuela, Colômbia, Argentina, Chile e Brasil que darão vida aos muros da cidade de Santiago.
O convite surgiu dois anos depois de ele ter participado do evento pela primeira vez, conquistando o reconhecimento dos organizadores. O embarque acontece na próxima sexta-feira (27).
A oportunidade de sair do país é, para ele, uma forma de representar o município e a comunidade Padre Donizete, no bairro Santa Rosa, onde vive. "Acho muito importante, porque Guarujá ainda é carente de artistas do grafite. Eu ir para fora, levar nossa arte, faz com que outros jovens se interessem. Acredito que também estou levando o nome de todos que me apoiam. Sem contar a técnica e a convivência com outros artistas", diz.
Para deixar sua marca no país chileno, ele pretende desenhar uma personalidade do rap, gênero musical. "Eu estou pesquisando um personagem do rap. Qual vai ser é que ainda não decidi. Gosto de desenhar personagens que as pessoas perguntem quem é, e eu respondo que é do hip hop. Eu tenho essa ligação com o movimento porque também danço break, e desde que comecei no grafite, nos anos 90, tenho muito contato com os outros elementos da cultura", diz.
Em sua estadia no Chile, no próximo sábado (28) e domingo (29), Zulu Tiquinho terá sprays, locação e alimentação custeadas pela organização do evento. Ele fala que, além do amor pela arte, esse é um dos motivos que o fizeram aceitar o convite, e opina que no Brasil e em Guarujá deveria haver um investimento maior no grafite.
“Eles vão custear tudo. Lá [no Chile] o grafite é forte, todo mundo pinta bem. Além das dificuldades de disseminar o grafite em Guarujá, as pessoas só querem algo bonitinho, como fazer asinhas para bater foto. Mas a arte não é só isso. Lá, você tem todo incentivo para pintar, consegue fazer o trabalho com mais qualidade e sem medo de gastar todo o material, o que acontece muito no dia a dia. São essas diferenças bobas que fazem valer a pena”, revela.
Porém, a passagem de avião não foi custeada. Mas, vendo a infraestrutura do evento chileno, Zulu Tiquinho fez grafites com o logotipo de lojas e confeccionou canecas com seus desenhos, com custo de R$ 25 cada. “Eu fiz arte com o logo de lojas e elas me pagaram, por meio do projeto Graffiti SRB [Santa Rosa Breakers]. Também confeccionei minhas artes em canecas, e as vendi no boca a boca. Um amigo meu comprou 30 unidades. Tive muito apoio”, justifica.
Legado de Zulu Tiquinho
Além de se dedicar ao grafite, o formado em Artes Visuais incentiva as futuras gerações a se inserirem na arte. Por isso, realiza há 20 anos o projeto SRB Point Casa do Hip Hop Santa Rosa, com apoio do Ponto de Cultura Sanzala. A iniciativa ensina grafite e break para jovens e crianças da comunidade Padre Donizete, onde mora, mais especificamente no centro esportivo do local.
Quando resolveu começar as aulas, encontrou uma quadra abandonada. “Peguei uma madeirite, montei umas mesas e comecei a dar aula. Mantenho até hoje essa quadra no meio da comunidade. Agora, o espaço é conhecido como Casa do Hip Hop. Quero que se torne um ponto de cultura”, sonha.
Esse desejo vem acompanhado de sua filosofia de vida, pois ele acredita em criar algo “sólido” como artista. “Eu faço de coração mesmo, para as crianças. O que adianta eu fazer arte, ser conhecido, mas não deixar frutos? Daqui a alguns anos, eu posso não estar mais aqui, mas sei que outras pessoas vão desfrutar da Casa do Hip Hop. Pelo menos eu vou falar que construí algo que ficou. Acredito em algo sólido, concreto”.
As aulas de grafite e break acontecem todos os sábados, das 14h às 17h, e acolhem crianças e adolescentes de todas as idades. A cada mês, Zulu Tiquinho realiza um evento sobre hip hop para os alunos, no qual convida artistas, dançarinos e cantores para conversar com as crianças, e incentivá-las ainda mais.
Ao fim do ano, realiza a Mostra de Graffiti e Festa de Natal do Hip Hop, um evento de grande repercussão na comunidade, que completa duas décadas neste ano. Na ocasião, ele convida vários artistas do Brasil, de diversos segmentos do hip hop, arrecada e distribui brinquedos para as crianças.
Entre tanta dedicação, ele diz retornar do Chile na próxima segunda-feira (30), porque “o trabalho continua”.