Cidades da Baixada Santista ignoram o Ministério da Saúde, seguem o Estado e vacinam adolescentes
Região já aplicou 103 mil doses contra a covid-19 em público entre 12 e 17 anos
Oito das nove cidades da Baixada Santista seguirão as orientações do Governo do Estado e vão manter a vacinação contra a covid-19 em adolescentes entre 12 e 17 anos para esta sexta-feira (17). Na região, apenas Mongaguá suspendeu o esquema de imunização para a faixa etária, com base em indicações do Ministério da Saúde. O município disse aguardar orientações estaduais. Segundo as prefeituras, 103.271 adolescentes já foram vacinados na campanha. Outros 42.403 ainda são esperados para receber as doses.
O Ministério da Saúde orientou, nesta quinta-feira (16), a suspensão da vacinação de adolescentes entre 12 e 17 anos sem comorbidades. A recomendação do Governo Federal, portanto, é que sejam vacinados somente os que apresentarem comorbidades ou menores apreendidos pela Justiça.
A justifica do ministério vem do Organização Mundial da Saúde (OMS), que não recomenda a imunização de crianças e adolescentes com ou sem comorbidades. A Tribuna consultou infectologistas, que afirmam não haver contraindicação da entidade internacional para a vacinação dessa faixa etária.
A recomendação da OMS seria apenas para que menores de idade fossem imunizados depois dos grupos com maior risco, o que já ocorreu.
"Ministério errou"
A infectologista Elisabeth Dotti afirma que, para frear a transmissão do vírus, devem ser imunizados os adolescentes e quem ainda não recebeu a segunda aplicação. "A terceira dose é importante, mas há uma montanha de gente que não tomou nem a segunda. E gente foi largando os adolescentes conforme a campanha foi andando".
O infectologista Evaldo Stanislau concorda. "O importante é vacinar a todos". Para ele, o Brasil tem dois extremos de segurança contra o coronavírus: os jovens que ainda não estão protegidos nem com a primeira dose e os idosos, que começam a perder imunização porque foram vacinados há bastante tempo.
"O vírus vai se perpetuar nos jovens, porque eles vão se contaminar e transmitir para idosos, que começam a ter queda dos anticorpos. Por isso, a terceira dose também é importante. Não existe nenhuma contraindicação. O Ministério da Saúde errou, fez uma leitura torta e equivocada do que disse a OMS. Os adolescentes precisam ser vacinados sim. E as vacinas são seguras", cravou Stanislau.
Anvisa contraria Ministério
Apesar da suposta contraindicação anunciada pelo Ministério, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) manteve, nesta quinta, a aprovação da vacina contra covid-19 da Pfizer para adolescentes.
Segundo o órgão federal, não existem evidências que subsidiem ou demandem alterações da bula aprovada. "Benefícios da vacinação excedem significativamente os seus potenciais riscos", lembra a agência.
O infectologista Ricardo Hayden lembra que os efeitos da campanha até aqui estão satisfatórios. "Tenho a nítida impressão, nos quase dois anos de pandemia acompanhando pacientes diariamente, que não há mais o número de pacientes se agravando na mesma proporção e na mesma medida como se agravavam antes da vacinação começar. É completamente diferente", comenta.
Estado manda vacinação continuar
O Governo de São Paulo informou que seguirá vacinando os adolescentes de 12 a 17 anos por recomendação do Comitê Científico do Estado. Até esta quinta, já foram imunizados cerca de 2,4 milhões de adolescentes paulistas, ou seja, 72% deste público.
Na Baixada Santista, são 103.271, segundo último levantamento feito pelas prefeituras região. Outros 42 mil ainda são esperados nos pontos de vacinação. A única cidade que não tem esquema nesta sexta-feira (17) é Mongaguá. A Prefeitura informou que a vacinação de adolescentes foi realizada até a última terça-feira (14) e iria retornar normalmente na próxima segunda-feira (20), mas, agora, informa que aguarda novas diretrizes do Governo do Estado.
Segundo a nota estadual, a medida tomada pelo Ministério da Saúde cria "insegurança e causa apreensão em milhões de adolescentes e famílias que esperam ver os seus filhos imunizados, além de professores que convivem com eles".
O governador do estado disse, em vídeo, que São Paulo "está ao lado da ciência e ao lado de pais e mães de adolescentes que querem ver seus filhos imunizados".
O Estado informou, ainda, que "três a cada dez adolescentes que morreram com covid-19 não tinham comorbidades em São Paulo. Este grupo responde ainda por 6,5% dos casos e, assim como os adultos, está em fase de retomada do cotidiano, com retorno às aulas e atividades socioculturais."